Um luto que não acabaNeila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Naquele domingo, acordei tarde, como sempre faço aos finais de semana. Tomei café e fiz o chimarrão. Liguei o computador para ouvir música, me dirigi à varanda e lá fiquei sorvendo meu chimarrão, lendo jornal, ouvindo música e brincando com o cachorro. Como ocorre nesta época do ano, em Brasília, estava nublado - é o período das chuvas. Parecia mais um domingo comum. Depois de um tempo, entrei. O computador estava na sala e quando fui alterar a lista das músicas vi notificações no Facebook. Amigos e amigas escreviam LUTO Santa Maria. O que estava acontecendo? Entrei nos sites de notícias e descobri que havia ocorrido um incêndio em uma boate. Passei o dia acompanhando o noticiário e mandando mensagem para amigos santa-marienses, perguntando sobre seus parentes. A chuva que caiu à tarde, em determinado momento, talvez fosse os pais e mães chorando seus filhos e filhas. Acompanhava pela rádio as sirenes, os helicópteros - como na noite da queda do avião da TAM, quando eu morava em São Paulo. E chorava. Ficava imaginando aquela morte e aquela dor. Não fui mãe, não tenho como senti-la, apenas dimensioná-la. MATADOURO Quando vim a Santa Maria fazer o concurso da UFSM, conheci, no ônibus, uma irmã de uma das vítimas. Ela cursava medicina em Porto Alegre. Queria salvar vidas. Fui percebendo, assim que cheguei, que é quase impossível não conhecer alguém que perdeu um ser amado nesta tragédia, ou melhor, neste crime premeditado, pois a boate era um matadouro sem saída. Ao longo dos últimos quatro anos convivi com pessoas que tiveram perdas. Que nome se dá a essa dor? Quando perdemos pai ou mãe somos órfã e órfão. Quando perdemos marido ou esposa, somos viúva ou viúvo. E quando se perde um(a) filho(a)? E quando se perde um irmão ou irmã? Um(a) amigo(a)? A cidade aguarda o julgamento dos indiciados mas, infelizmente, muitos nem o foram. O prefeito da época saiu incólume. E quem deixou aquele lugar ser uma arapuca? PARA NÃO SE REPETIR A luta dos pais e mães da Kiss é nossa, é da cidade. O luto que não acaba é nosso, por isso, o slogan: Não esquecer para jamais repetir. Foram 242 vítimas fatais. Janeiro de 2021. Oito anos depois. E o Brasil também vive um luto que não acaba: 220 mil mortos pela pandemia da Covid-19. Muitos asfixiados, como as vítimas da Kiss. Para quem não lembra, naquele 27 de janeiro de 2013, a presidenta Dilma Rousseff saiu do Chile, onde estava, e voou para Santa Maria. Enquanto isso, no Brasil desgovernado, #EleNão diz: E daí? Teremos que empilhar os mortos em um ginásio, como na boate Kiss, para que o Brasil tenha a dimensão do luto que vivemos hoje? |
Netos, alegria ou encargo?Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Se John Lennon, que morreu em 8 de dezembro de 1980, ressuscitasse hoje, músico, poeta, visionário, jamais entenderia o que estamos vivendo, não apenas pela pandemia, mas também pelas relações. Um exemplo claro disso é o neto. Antigamente, mais precisamente nos anos anteriores a 1980, era orgulho de qualquer pai o nascimento de um neto. Representava alegria, barulho nos almoços de domingo, continuidade dos negócios da família, da hereditariedade, enfim, só alegria. Atualmente, em certos casos, tem outra denotação, outro sentido. Preocupação, apreensão, encargo, pensão e... prisão. RELAÇÕES CONTROVERSAS Segundo o ordenamento jurídico, parentes podem exigir uns dos outros alimentos de que necessitem para subsistir. Diz, também, que os alimentos são recíprocos entre pais e filhos e extensivo aos ascendentes. Embora tal suporte jurídico já exista há tempos, o que se vê atualmente é a indústria da ação de complementação de pensão. Porém, apresentam certas peculiaridades. Normalmente os pais tiveram um caso rápido, sem maior expressão, que redundou na gravidez. São ações cumuladas com investigatória de paternidade, ou então, já houve a investigação anteriormente; na maioria dos casos, o nível econômico, social e cultural da mãe é inferior ao do pai e de sua família. Relacionamento nada cordial entre a família do pai e a mãe; ação de complementação de pensão só para os avós paternos. Desses elementos se depreende que a pensão significa mais uma ascensão econômica para a mãe do que uma necessidade básica para o neto. Há, porém, um fator extremamente prejudicial nesta pensão, que é a sua temporalidade, ou seja, o alimentado acostuma-se a viver com aquela pensão, fator totalmente fora da realidade econômica de seu pai ou mãe. E, ao completar a maioridade, quando as suas despesas realmente crescem, pois, os hábitos não são mais os de uma criança ou adolescente, tem repentinamente tirado de si esse "status". Desta feita, há um choque. Além de passar a viver no padrão dos pais, não pode contar mais com um valor apenas seu. Por outro lado, para os avós, também há uma conotação negativa esta pensão. Muitas vezes, pela primeira vez vão parar em um foro, situação totalmente desconfortável para o homus medium, principalmente nesta idade e circunstância. Logo, o que seria um fato gerador de alegrias, passa a ser gerador de encargos, de obrigação não prevista e imposta de maneira unilateral, o que gera desagravo maior ainda. Isso sem falar na sombra da prisão que se põe acima de qualquer alimentante, principalmente nos novos tempos, onde o avô ainda faz parte do mercado de trabalho, podendo ser dispensado a qualquer momento em razão da crise econômica que abate o mundo. Assim, neto, alegria ou encargo?
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